Vês um vestido lindo, tamanho XS, pegas nele a medo, experimentas, serve-te perfeitamente e para além disso está com 50% de desconto.
Fuck yeah.
Como sabes que a tua vida social é uma merda? Levantas-te de manhã, pensas "que belo dia...", vestes a roupa de desporto, vais correr para a Mata municipal, voltas para casa, tomas um banho, e.... vestes o pijama novamente, pronta para um dia de tv+porcarias. E eventualmente vais pegar no monte titânico de trabalho que tens ali estrategicamente pousado no canto menos iluminado do quarto. Yep. Forever alone :')
Guardo na parede do quarto esse único postal de aniversário, de entre tantos.
"É o dia do teu aniversário, a preguiça e os sonhos são permitidos". Durante muito tempo, nos anos adolescentes, esse era um dia perfeito. Sonhos e preguiça. Sonhava acordada, milhares de sonhos voavam pela minha mente, atropelando-se e enrolando-se uns nos outros, horas deitada de barriga para cima a imaginar milhares de realidades alternativas, todo o tipo de acontecimentos e sentimentos ocorrendo, numa vasta teia. Eu-guerreira, eu-princesa, eu-pobre, eu-rica, eu-destruída, eu-resplandescente, eu-amada, eu-amante. A vida pela frente, sonhava e sorria, talvez ainda seguisse os passos de um dos meus eus-alternativos.
Hoje, e há muito tempo, deito-me com o cansaço a arrancar-me suspiros, e quando fecho os olhos, surge apenas um vazia negro, ou ecos de obrigações e afazeres a deambular pela mente. Acordo quase tão cansada, um grande borrão no sítio onde costumavam estar os sonhos. Sinto-me impotente e envelhecida, tolhida com o medo de sonhar. E é triste. Triste como um pássaro moribundo com as asas partidas, uma árvore queimada, ou um peixe fora de água.
Quero um dia ter coragem para voltar a sonhar, e ser grande o suficiente para não me quebrar quando ele cair por terra. Porque os sonhos são isso mesmo. Um pózinho mágico que rapidamente regressa a pó, apenas para retomar consistência sob forma de outro sonho.
Pergunto-me o que quer dizer a minha mãe ao oferecer-me no Natal um pijama com uma vaca a dizer "Moody in the morning".
Toda a gente sabe o quão sociável eu sou antes do meu primeiro café.
Não sei porque arriscam a vida a dizer-me "Bom Dia" antes disso. A sério.
Dizia alguém no outro dia que a vida era como a Lua, por fases... (Ok, foi uma frase que vi no facebook, admito-o com vergonha, insiro-me nesse rebanho cibernautico). E de facto, mais cedo ou mais tarde voltamos a passar por cópias quase perfeitas daquilo por que já passámos. Pessoas diferentes, locais diferentes, circunstâncias diferentes, mas revivemos ciclicamente as situações, passando por uma roleta russa de sentimentos muito similares ao que já sentimos, um eco do passado, uma espécie de dejá-vu. Pelo menos para mim a vida funciona assim. Ou melhor, des-funciona. Tenho uma vida francamente disfuncional, diria. Poderia dar tantos exemplos, que aquilo que começou como um post, acabaria em tratado. O que iria além do que pretendo hoje (mas vou apontar na minha agenda essa hipotese... "Tratado Magnificente da Vida de Zone", soa perfeito).
Hoje o meu objectivo é só dizer:
Porque sim.
Porque "C'est la vie!"
Porque compota de ruibarbo.
Porque appletini (não faço bem ideia do que é, mas soa bem).
Ah, e porque sim.
(A vida continua. E daqui a algum tempo, as lembranças serão só isso, lembranças. Estou cansada de fugir de mim, correr de olhos fechados para não ter de pensar no que fiz [ou não fiz]. A vida continua. E se tudo correr bem, o karma há-de encarregar-se de te mostrar onde erraste. E por essa altura, se tudo correr bem, hás-de sentir o que senti.)
Estranho, como venho apenas aqui para falar sobre lágrimas. Ou por outro lado, não tão estranho quanto isso. Não gosto que vejam o que se passa por baixo da máscara com o sorriso simpático que uso todos os dias. Não suporto que me vejam em plena fraqueza. Nestas alturas, começo por fingir que tudo está bem, que a vida é apenas um belo dia de trovoadas de Verão, em que ora chove, ora faz um sol tenebroso. Finjo que sou forte, e que fico indiferente ao que me acontece, estou lá para os outros. E estou. Sorrio, sorrio, sorrio. Ninguém tem culpa. Mas chega o dia em que não há força suficiente para sorrir. Ficamos calados, queremos apenas que nos deixem em paz, o dique frágil que retém os sentimentos está à beira do colapso, e ninguém me pode ver as lágrimas. Em público, as lágrimas deixam de lavar a alma, e tornam-se apenas um adereço de manipulação de sentimentos. Lágrimas de pessoas que não encontram força interior suficiente para se erguerem, e controlam os outros com o peso da culpa que as suas lágrimas provocam. Desprezo, por lágrimas falsas. Enfim... as verdadeiras lágrimas na sua essência vão esvaziando a alma da mágoa que já transborda. Lágrimas e palavras sinceras. Palavras que apenas posso dizer aqui, porque ninguém me conhece. E quem conhece, não se cruza comigo todos os dias, nem tem de sentir aquela obrigação de me confortar. Gosto disto. Aqui a minha dor é anónima, e não preciso de ser eu no fim a confortar os outros por não me poderem confortar. Aqui, posso ser egoista, e simplesmente deixar a mágoa sair. A mágoa de sonhos desfeitos, como castelo de areia que rui sob sol tórrido. Esperanças, ilusões, fantasias. Tudo o que não resistiu ao pousar abrupto dos pés no chão. Fico frente a frente ao meu futuro e tenho de encarar a realidade. A distância em relação a quem me compreende, e mesmo quando não compreende, simplesmente me abraça e aceita tal como sou, beijando-me a testa. Sou nova, não sei o que é amor? e que sabem vocês, curvados por anos de decepções e luta por algo melhor? Eu quero, e preciso errar. E mais do que isso, preciso de alguém que esteja lá para mim, não alguém que controle a minha vida por mim... Sim, choro porque abdiquei dos meus sonhos e da minha liberdade, em troca da aprovação de quem vive por procuração, através de mim. E agora, os únicos braços que me poderiam consolar estão a muitos quilometros, e assim vão ficar, por muitos anos. Choro, porque quando o dia me correr mal, não posso ir a correr para os braços de quem me vê as falhas e ainda assim me diz que sou perfeita. Quando o dia me correr mal, vou ter de voltar para casa, voltar a colocar a minha máscara do sorriso simpático, e esconder as lágrimas. E fingir. Fingir. Fingir.
É errado, querer um bocadinho de perfeição? Por uns segundos, uns minutos, uns dias, talvez? Um sentimento perfeito, uma visão perfeita, um futuro perfeito, uma despreocupação perfeita, um riso perfeito, um sonho perfeito? Um passado perfeito? É errado criar na nossa mente um mundo diferente, onde tudo faz sentido sem realmente fazer, onde podemos apagar com um fechar de olhos, tudo o que tira luz a uma existência demasiado real? Tornar a monotonia das rotinas numa corrida à chuva num dia de verão, o imprevisto soltando gargalhadas na garganta? Talvez um dia olhe a minha volta, e faça da imperfeição, perfeição. Por uns segundos... minutos... dias...
De volta a casa... Rabinho alapado no sofá, a degustar as gomas compradas na estação de serviço onde finalmente fui abastecer a minha Cindy após uns dias de luzinha amarela de combustivel ligada, e a ver um filme na tv... [Correcções/explicações: ler "emborcar que nem uma porca prenha" em vez de "degustar" e sendo a Cindy o meu belo coche adolescente (ou pelo menos seria, se tivessem a mesma esperança média de vida que um ser humano...de outro modo, é capaz de ser um cochezito a chegar à idade dos reumatismos)].
Após um fim-de-semana passado em lisboa a correr centros comerciais (shame on you, capitalista!) e a ser ora mimada ora arranhada pelo gato maniaco-depressivo da minha irmã (que já conta com uma tentativa de suicidio no curriculo), regresso a uma latitude onde as pessoas que lidam com o público sabem sorrir (depois de uns dias em lisboa começa-se a pensar se a elevada densidade populacional ou se aquela latitude exacta não afectará a contractibilidade muscular do orbicular da boca... faria sentido, se não fosse completamente estúpido).
Gosto da viagem de comboio, contudo. Os rostos desconhecidos, aquelas vidas, insignificantes e cheias de sentido ao mesmo tempo, que uma boa banda sonora transformam num cenário completamente indiferente. E são essas indiferença e distanciamento que tornam as viagens tão agradáveis, uma espécie de excursão à própria alma, com devaneios enlaçados em devaneios, interrompidos apenas pelos vidros que estremecem com outros comboios que fazem o coração bater doidamente enquanto as mãos ficam dormentes, até que o sorriso volta, com a noção da nossa natureza instintiva... Ainda vou ter um belo de um ataque cardiaco, um destes dias.
Ainda fui trabalhar umas horitas, fazer um favor a um amigo que é suficientemente doido para tentar trabalhar 24h seguidas, só para descobrir que zombies não são mortos-vivos, são pessoas que trabalham 21h seguidas e depois entram em actividade cerebral minima. De modo que lá fui eu, toda contente, fazer as últimas 3horas dele. Bonito, tentar estacionar no hospital domingo a tarde. Ocorre-me a minha última gaffe... "Como consegues sempre estacionamento à porta?! Nunca arranjo, eu!" "Estacionamento para deficientes...", responde-me ele. Blush, blush, blush. Ai, o silêncio é definitivamente de ouro. E sem dúvida que pensar antes de falar também dá jeito.
Bem, e talvez este seja um bom modo de acabar. O silêncio é de ouro.... Shhh :)
Rápido, como se me escondesse de mim própria, digito o url do sapo. E ainda mais rápido, faço o login e acedo aos meus blogs, ao dashboard, e ponho-me a escrever sem pensar, sem dar tempo a minha censura de me fazer apagar o que quero gritar, aquela parte de mim que chama por alguém que a queira ouvir e embalar enquanto chora desalmadamente sobre "o leite derramado", pequenos dramas insignificantes no tic tac de um relógio mais global... Admito, até aquela parte de mim que abomina a auto-comiseração e o desejo estupido de significar algo para os outros e obter aprovação nos mais mundanos gestos, tinha saudades disto... De escrever, de poder dispersar e divagar sobre o que me vai na alma, de tentar fazer sentir aos outros uma pequena parte do que sinto... Argh, mas logo vem a sensação de futilidade, de que é vergonhosa esta necessidade de se expor em busca de compreensão, que me faz ter vontade de apagar tudo o que me revele... Mas hoje vence o cansaço. Estou cansada de me tentar aguentar num só bocado, sem me quebrar nos milhões de pedaços que sinto vibrarem dentro de mim e que anseiam por se dispersar, seguindo o rumo do vento, da loucura. Shhh, não falemos mais. Hoje mostro as fissuras da minha armadura, hoje não sou a pessoa equilibrada e responsável e auto-suficiente que todos queiram que seja. Hoje sou uma criança que chora porque sim. Faço birra e choro. Estou cansada.
Chegam os momentos, em que é hora de desvanecer. Momentos que se vão repetindo, como ondas que vêm, uma atrás da outra, esbater-se na praia. Assim é a vida, tudo se transforma ao longo de ciclos que se repetem, e vão chegando os momentos de ruptura e mudança, em que a única coisa a fazer é dar o lugar. E o que num momento faz todo o sentido, no momento a seguir passa a ser incerteza, para talvez voltar a ser fé, ou ser refutado para as obscurezas do esquecimento.
E neste momento, nada disto faz sentido. Não sou a mesma pessoa que já fui, e lembrar-me de quem fui não me ajuda. No fundo, preciso de cortar amarras com a pessoa que se olhasse ao espelho me olharia com surpresa e desdém. Coisas que fazemos, decisões que tomamos, a vida que nos molda em novos seres.
Talvez regresse, mas para já, o esquecimento é uma benção. Como o silêncio de uma noite de verão no meio do nada, que acalma a alma com um suspiro de alívio.
Por isso, e porque não o fazer seria injusto e egoísta, obrigada aos que me acompanharam. Conheci pessoas fantásticas, e de quem aprendi a gostar imenso. Pessoas que me fizeram rir, sorrir, pensar, reflectir. Viver, em resumo. Obrigada, portanto, por terem feito parte deste pedaço de vida.
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